24 de setembro de 2011

DOR DE DENTE - Mário de Andrade

Em frente de Sousa Costa, a pretinha Marina, imóvel, se agarra com as duas mãos no banco, estarrecida, boca aberta, olhos esbugalhados, gozando. Como tinham ido ao Rio pelo noturno, esta era realmente a primeira vez que enfim Marina viajava de trem, a sua maior aspiração. Automóvel, jamais a interessara, era canja, não tinha apito. Mesmo para ir da casinha dela, na chegada de Jundiaí, para a vila Laura, foram buscá-la na Fiat, não tinha apito.

E nos seus quatorze anos, Marina guardava aquele desejo eterno com que, todos os dias de sua já longa vida, espiava os trens, trepava no barranco, os trens sublimes passando. A casa do pai dela, carapina em Jundiaí, era justo numa curva de apitar, e o apito nascera dentro dela como a suprema expressão da dignidade dos veículos.

Só uma coisa Marina ainda achava superior ao trem: ter dor de dente. Chegara a rezar a Deus pedinho que lhe mandasse uma dor de dente, nem que fosse uma dorzinha só, bem pequenina, porque achava muito lindoa gente andar com um lenço vermelho amarrado na cara. Achava lindíssimo. No tempo em que morava com a família, chegava a chorar de escondido, porque o Dito andava sempre de lenço amarrado na cara, maravilhoso, já todo banguela de tanto dentearrancado com dor. E ela com aquela dentadura branca, alvinha, sem uma dor.... Chorava.

De Mário de Andrade - Amar, Verbo Intransitivo.

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